A aventura começou hoje! – 1º dia
Dia 01 – Viagem do Atlântico ao Pacífico
25 de fevereiro de 2011
Delícia de dia, o primeiro dos quinze dias que deve durar minha primeira viagem solo pela América do Sul, via deserto do Atacama, no Chile.
Após mais de sete meses pensando nesta viagem, agora ela já se transformou em realidade! Aqui estou, na cobertura do hotel em Foz do Iguaçu, tomando uma para comemorar o início da jornada. Quase 1.100 quilômetros rodados neste início. Mil e cem pensamentos, mil e cem emoções diferentes.
Só quero falar as coisas boas, mas as ruins fazem parte. Então, serei breve…
A parte da manhã foi como um passeio na Disneylândia (aquela da Califórnia, não a de Orlando que é muito agitada). Sol, temperatura amena, estradas sem movimento, o asfalto parecendo um tapete, motoristas respeitosos… Quase sem graça, pois foi muito mais do mesmo. Gostamos é de curvas, não de retas… nem de parque de diversões. Mas, em tese, era o dia para a viagem perfeita. Viagem de livro.
Bom, à tarde, folks, o bicho pegou. Após o almoço, três horas rodando com chuva intensa e tensa, coisa de gente grande. Depois parou. Mas faltando 70 quilômetros para chegar em Foz, meu destino do dia, escureceu. E junto com a noite, não veio a chuva, mas a tempestade, com direito a festival de raios e trovões. Aquele momento que não dava para parar, nem para seguir e eu me perguntava: “e agora?”.
Bom, quis vir à festa, então bata palma e coma bolo, por mais que seja daqueles brancos, com glacê, doce de doer… Pois é, encaixei atrás de um Gol que mandava bem na chuva e cheguei.
De verdade, à tarde foi punk. O vento lateral não perdoava, a viseira embaçava, e a água sempre implacável, entrando por onde a sua imaginação alcançar.
Bom, deixemos as trevas para lá. Faz parte da viagem. Assim como não é sempre só céu de brigadeiro, nem mar lisinho, o asfalto também tem seus destemperos.
O legal do dia foi a constatação de quando você é motociclista e está (assim como eu) sozinho, as pessoas se aproximam muito mais. Acho que um grupo de motoqueiros espanta, mas um doido solitário atrai. Incrível, a cada lugar que parava, juntava gente para conversar, perguntar, ver “La Macchina”. E realizei como todo mundo tem histórias para contar. Será a vida realmente feita de histórias? Talvez sim, pois independentemente de condição social ou econômica, é o que sobra democraticamente para todos. Histórias.
Um motorista de ônibus contou-me que em 1961 foi para Antofagasta, no Chile, em uma convenção da Scania. Falou sobre todos os lugares onde passarei, os cuidados, dicas, etc. Claro que pouco devo aproveitar, pois tudo isto foi há mais de 40 anos. Ele contava tudo como se fosse hoje. Nostálgico, mas feliz por reviver aquele que provavelmente tenha sido um dos momentos em que ele se sentiu bem importante.
Um grupo de excursão ao sair do ônibus veio em minha direção. Mil perguntas, mil indagações e a pergunta obrigatória do porque eu estaria fazendo esta viagem. Como todos que já viram o blog sabem, por nada. Eudaimonia! Sem pretensão, sem obrigação. Pelo momento vivido, que no meu caso, é especialmente vivido quando estou em cima de uma moto. Quase filosófico.
Ah, o blog. Nesta altura deve ter mais alguém que entrou. Até ontem, tinha eu, o cara que fez o blog, minha mãe, minha mulher (pedi este favor para ela), a Mel e a Lua, talvez o motoboy da empresa e só. Já me sinto honrado o suficiente com todos eles.
Outra coisa legal do dia, é que quando saio da Suécia onde moro (ops, São Paulo), tenho a impressão que me reconecto com o meu país, que certamente não é aquele entre as marginais Tietê e Pinheiros onde vivo. Aquele pedaço é uma ilha, uma boa ilha que eu amo e acho que não troco por nada (na verdade, trocaria por Milão, Firenze, Barcelona ou Praga). Mas o Brasilzão é diferente. É o Brasilzão! E olha que eu sou caipira do interior, imagina os paulistanos da gema o que sentem ao adentrar no Brasilzão…
Neste momento, escrevo somente para mim. Nos dias atuais, ninguém, absolutamente ninguém chegará até este ponto do texto. É muito longo, nada prático e nada imediatista. Desculpem-me o egoísmo, mas eudaimonia de novo. Feliz estou. Beijos a todos, seu Tatão.
Em tempo: como é bonita a região de Campo Mourão. Campos largos, sem árvores é verdade, agricultura mecanizada, plantações até a margem da estrada como na Europa, mas com nuvens negras e sol do outro lado, o dourado salta e a imagem brilha.
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Espaço para os motociclistas
(Não interessa para mais ninguém, talvez somente para os que gostam de números ou dicas para a próxima viagem). Tô sem paciência para escrever isto, mas algumas pessoas pedem e como vários me ajudaram a montar minha viagem, me sinto obrigado a ajudar os outros.
Km rodado: 1.056
Horas de viagem: 13:25 hs
Horas pilotando: 10:37 hs
Parado: 2:47 hs
Altitude em Foz: 265 metros (Em Sampa é 745 metros de altitude)
Média de velocidade no dia: 100 km por hora
Percurso: Ourinhos, …
Acessórios indispensáveis: descanso de acelerador, cabo de aço para amarrar a jaqueta à moto, o mesmo para capacete (nas paradas).
Ta mandando bem! Mes que vem eu to ai tambem nessa viagem,detalhe sozinho…to com tigo meu irmao …acelera… e vai com DEUS!!!
Valeu, é isto ai.
Aproveite, e boa viagem, quem sabe uma proxima estaremos juntos!
Segue pela sombra.
Abraços.
Beleza em garoto, não sabia desta aventura, muito LEGAL, CURTI….vai com Deus, que ele o acompanhe durante toda sua jornada, pois em toda experiência na vida nós tiramos alguma conclusão, seja esta experiência Boa, ou não ela lhe trará muita coisa….pense nisso e curta muito sua Viagem, mais uma vez vá com Deus Amigo…….
Ahi garoto, estou “ligado” !
Olá Fábio ! Finalmente enrolando o cabo pela Argentina !!! Gostaria de estar aí com você, mas, sinceramente, a função de Paulo Coelho continuaria sendo sua…. eu também acho um saco ficar escrevendo… Mas não desanime. Continue descrevendo bastante o seu caminho, pois, para nós que lemos, é um prazer enorme reviver esses momentos sobre 2 rodas. Boa viagem e que Deus o proteja (e que o livre da policia caminera).
Abraço.
Celso
É isso Fábio, não tenha preguiça de escrever, afinal quem gosta de moto adora ler relatos de viagem.
Qto a chuva e as coisas ruins que poderão aparecer, acima de td use bom senso, td vale a pena desde que preserve sua alegria para o day after.
Joinville, como sempre chuviscando e S1000 ali na garagem me namorando e eu esperando abrir um solzinho dar uma esticadinha…………rsrsrsrs………..Boa viagem
Fábio, li até o fim e pretendo continuar lendo essa sua aventura! depois de um treino nesse calorzão , o seu texto refrescou a minha manhã, bjs e boa viagem! bj Magu
Fabio,
Faça uma boa viagem e aproveite bastante. Este roteiro é fantástico e estivemos na região no mes passado (veja Blog http://www.goulart.pro.br/blog) onde tem algumas dicas com relação a softwares para GPS que usei. Não deixe de exportar os dados da viagem para GPX com frequencia para não perder as infos.
Muito sucesso.
Ademir
Brilhante o texto!!
Parabéns Fabio pelo primeiro dia de vários… Estamos acompanhando e lendo ate o final…. Ahahahah. E por fim, as 5h45 da manha de Sabado antes de ir p/ um treininho em Alphaville de bike+run… Todos temos um pouco de louco….