Araçatuba e meu avô José

A origem da família

(escrito por meu pai)

José nasceu no dia 17 de Abril de 1899 na cidade de Itatiba S.P. (ele dizia que tinha nascido no dia 12 de abril de 1901 e sempre foi esse o dia lembrado), filho de Colaferro Giuseppe Qurino (conhecido como Miguel Collaferro) e de Maria Carreri, que vieram para o Brasil como imigrantes italianos, direto para a Pensão dos Imigrantes no Brás em SP, pobres, sem parentes por aqui, para trabalharem em serviços braçais.

Casaram-se aqui no Brasil. O seu pai “Miguel” veio da cidade de Altino, Província de Chieti no centro da Itália e a mãe “Maria” veio de Mantova, norte da Itália.  O Sr. José dizia que ela era do lugar de pessoas educadas e que o pai era do sul, lugar de gente rude e brava.  O Sr. “Miguel” trabalhou nos serviços pesados, tais como a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, especificamente na Serra de Paranapiacaba, local hoje tombado como patrimônio histórico.  Trabalhava com marreta e picareta.

Colaferro Giuseppe Quirino (Miguel Colaferro) é filho de Luigi Colaferro e Sabia Scutti. Nasceu em 7/6/1867 e morreu em 17/11/1914 na cidade de Atibaia S.P.

O pai de “Miguel”, era Luigi Colaferro*, nascido em 1829 na cidade de ALTINO, Provincia de Chieti.  Morreu em 12/09/1908 em Atibaia SP de bronquite aos 79 anos, deixando sete filhos.  Os pais de Luigi eram: Manoel Colaferro e Angela Maria Colaferro.

* A certidão de desembarque de Luigi Colaferro no Brasil (autos C.H.I. n.01982/91): “Certifico constar do livro de matrícula da HOSPEDARIA DE S.PAULO 21/80 do acervo documental do Centro Histórico do Imigrante, os seguintes dados de LUIGI COLAFERRO = nacionalidade – italiana / Filiação – nada consta / data de nascimento ou idade – 52 anos / sexo – nada consta / estado civil – nada consta / profissão – lavrador / Vapor “EUROPA” / data do desembarque – 8 de setembro de 1890, em Santos / composição da familia – só”.

 

Maria Santa Carreri, nascida na Comune di Revere – Província de Mantova -, em 02/11/1878. Filha de Giuseppe Carreri e Annunciata Carreri.

Miguel e Maria se casaram em 16/05/1896, na cidade de Itatiba, SP e tiveram 6 filhos: Luiz, José, Antônio, João, Evelina (Helena) e Sabina.

O sobrenome “Colaferro”

Os registros encontrados remetem a vila de Lanciano, na Província de Chieti (CH), Capoluogo L’Aquila (AQ), região de Ambruzzo, próximo a Pescara no Mar Adriático (na altura de Roma).

O registro mais antigo é de 23/3/1809 sendo de Nicolandrea Colaferro, filho de Francesco Paolo Colaferro e Maria Fedele Cervone.

A Cidade de Lanciano, devido ao Milagre de Lanciano é muito conhecida:   “ Por volta dos anos 700, na cidade de Lanciano, viviam no mosteiro de S. Legoziano os Monges de S. Basílio e, entre eles, havia um que parecia vacilar na fé. Ele tinha dúvida de que a hóstia consagrada fosse o verdadeiro Corpo de Cristo e o vinho consagrado o Seu verdadeiro Sangue.  Foi quando, certa manhã, celebrando a Santa Missa, mais do que nunca atormentado pela sua dúvida, após proferir as palavras da Consagração, ele viu a hóstia converter-se em Carne viva e o vinho em Sangue vivo, coagulando-se em cinco pedaços irregulares de tamanhos diferentes.  No correr dos séculos, várias pesquisas eclesiásticas foram realizadas e, em 1574, o Milagre Eucarístico em Lanciano foi considerado verdadeiro pela Igreja “.

O sobrenome “Carreri”

É encontrado principalmente na vila de Schivenoglia, província de Mantova, entre Milao e Veneza, pouco abaixo de Verona.    O registro mais antigo encontrado é de Domenica Carreri, em 1748.

O sobrenome familiar italiano Carreri foi classificado como tendo sua origem em um apelativo popular ligado a uma atividade profissional exercida pelo portador inicial, ou seja, ligado a um trabalho que este executava com a finalidade de suprir suas necessidades e de manter seus dependentes.

Depois do Concilio de Trento, com a exigência dos sobrenomes, muitos adotaram os de suas profissões, estas na época eram transmitidas de pai para filho, para fazer distinções entre indivíduos que tinham o mesmo prenome, mas outra profissão.

Está também foi uma forma muito popular de se atribuir sobrenomes familiares pois facilmente se identificavam pessoas através de suas profissões, neste grupo se inserem muitos dos sobrenomes com grande índice de freqüência, ou seja, largamente utilizados.

Nesta categoria de sobrenomes incluem-se todos os que recordam qualquer atividade exercida, inclusive cargos, funções, títulos de grau, de condição social, uma vez que, estes últimos, representem um oficio exercido na área civil, militar, religiosa e até mesmo familiar.

O termo Carreri foi a forma plurificada do original Carrero, uma variação regional para Carraro, este vindo do latim carrarius tinha como função identificar o fabricante e/ou mercador de carros, carroças e carruagens de todo tipo, em algumas localidades o termo também foi associado ao condutor de carroças (carreteiro).

Assim, em tempos remotos, alguém cujo sustento estava ligado de alguma forma com  estes veículos foi chamado de “il Carrero”, seu filho foi então conhecido como “Fulano Filius Carrero” ou seja “Fulano filho do Carrero”, o filho deste, ou melhor, neto do patriarca original apenas se utilizou do termo após seu primeiro nome sendo então conhecido como “Sicrano Carrero”, o repasse do termo de geração em geração acabou por transforma-lo em um sobrenome familiar.

A forma plurificada surgiu para identificar um clã familiar, em italiano a frase “Família dos Carreros” fica “Famiglia dei Carreri”, os que passaram a se utilizar do novo termo deram origem a este braço familiar.

O pai José Colaferro

O que sabemos da nossa história, começa com meu pai, o Sr. JOSÉ COLAFERRO, um homem simples que cursou apenas até o 4º ano do grupo primário, onde, na época, se aprendia álgebra, medidas métricas, religião, entre outras leitor de revistas e tudo o que estivesse ao seu alcance, tais como Seleções (Reader’s Digest) e revistas técnicas.  Parou de estudar para poder trabalhar e ajudar a sua mãe, pois era o 2º filho mais velho que aos 14 anos perdeu o seu pai e junto com a sua mãe assumiram a educação dos seus irmãos, Antônio, João, Evelina (Helena) e Sabina.  O irmão mais velho Luís saiu de casa e foi tentar a vida em outros lugares.

O Sr. José pouco falou do seu pai, pois conviveu muito pouco com ele, que sempre estava em trabalhos fora de sua cidade.  Pouco ou quase nada se sabe da sua procedência, pois não tinham documentos como hoje, e quando ele morreu (soubemos que foi aos 37 anos de idade) um conhecido foi ao Cartório “atestar” e registrar a sua morte.  Nesse “atestado” (era assim na época, escrito a mão num “livrão”), não consta o nome dos seus pais, dos seus filhos , da sua esposa, a data do seu nascimento e nem o lugar onde nasceu.  As pessoas tinham história, mas não tinham registro da sua história.  Então, a D.Maria “costureira” , como ficou conhecida, tomou sozinha, junto com o José a responsabilidade pelos filhos.  O mais novo, João, dizem que tinha um ano apenas.  Alguns conhecidos, nessa época moravam em Atibaia S.P., queriam que ela desse as crianças para outras famílias cuidarem, mas dizia o Sr. José, que ela não faria isso nunca e que se ela tivesse somente polenta em casa, era isso que todos iriam comer.  E assim, os filhos foram crescendo e depois de adultos, cada um tomou o seu rumo.

O Sr. José nunca desamparou Dona Maria sua mãe.  Ela sempre esteve com ele, até o seu final.

José, quando menino trabalhou como servente de pedreiro e quando adolescente começou a aprender e trabalhar, batendo marreta, na oficina de ferreiro de seu tio Ettore Carreri, no Largo do Rosário na cidade de Jundiaí.  Esse foi um tio que o Sr. José sempre quis muito bem, pois ajudou bastante e era uma pessoa muito bondosa. Quando recebia seu “ordenado” pegava o trem da Cantareira e ia para Atibaia levar o dinheiro para a Mãe, pois ela morava lá, por ser bastante conhecida e procurada como costureira.

Aos 20 anos já era um mecânico especialista em máquinas e motores, vapores, soldas etc. Trabalhou em Atibaia (sp), como mecânico chefe das maquinas dos teares da fábrica de tecidos “Affonso Vizeu e Cia.” de 1919 a 1924, que produzia “fazendas em grosso e manufacturas de roupas”.

Era apaixonado pelas máquinas trabalhando. Conhecia tudo do seu funcionamento e muitas vezes varava noite consertando para que no dia seguinte tudo estivesse em ordem. Seu conceito na fábrica era de um técnico de alto nível. Nunca estudou para isso. Era um autodidata nesse negócio.

Nesse emprego, num dia de chuva, ele tomou uma descarga elétrica de altíssima voltagem, quando foi verificar uma queda de energia no transformador da fábrica, pois as máquinas

não podiam ficar paralisadas por falta de energia.  Despencou de uma altura de 5 metros e caiu de cabeça ficando com os braços queimados, um buraco nas costas e desacordado por um bom tempo.  O socorro imediato dos companheiros e o fusível que queimou na hora foram a sua salvação.

Um engenheiro Inglês, dessa fábrica, queria levá-lo para a Inglaterra.   Nunca quis por causa da mãe e dos irmãos.  Ele dizia que nessa época, ele sonhava que estava voando em cima de Manchester, imaginando como seria, pelas histórias que esse inglês contava para ele.   Foi convidado também para mudar para São Francisco – Califórnia.

Jogou futebol e foi convidado para jogar no Palestra Itália em São Paulo, mas não foi porque precisava ficar perto da sua mãe.   Foi um craque da bola.   Até hoje, no Museu de Atibaia (sp) existem arquivos e referências sobre ele.   Se ainda houver alguém do seu tempo lá em Atibaia, certamente se lembrará dele, e também das suas façanhas: A bengala de ferro e o “negrinho”; Os doces das irmãs do Padre Godi; A porta da tipografia perto da sua casa; As meias e os queijos do treinador; O cachorro do Padre; As tachinhas e as velhinhas “rezadeiras”; A bengala com “aquilo”; Sábado de Aleluia com a molecada; O passeio “nu” pela praça; Ir ao cinema de capa; Choque nos gatos; O gato dentro do forno; A fumaça do escapamento do pé de bode; As maçanetas das portas; O rabo do gato; As balas e a molecada; As abóboras com a vela; “Mij..” nas cervejas; Incentivava brigas e depois…;  Pó de mico na molecada; Busca-pé nas festas; Moedinha no chão com choque; Segurar objetos e ….; . Paralelepípedo dentro de caixa na calçada; Pintava o gato; entre outras histórias muito engraçadas !

Seu irmão mais velho Luís, sempre foi meio cigano.  No ano de 1924, José recebeu o convite do irmão Luís para trabalhar em uma oficina mecânica na cidade de Araçatuba S.P, na época era no sertão da noroeste do Estado de S.Paulo. Lugar de matas virgens, muita disputa de terras, matadores profissionais, animais ferozes, etc. Aceitou o desafio e foi parar no sertão.

Eram dois dias de viagem de trem para se chegar até lá. Na primeira viagem, levou até uma bigorna super pesada na mala. Tanto era um lugar de faroeste que num determinado dia, enquanto conversava com um amigo encostado num poste na praça, levou um tiro no peito e quase morreu. Foi levado para São Paulo e foi operado no Instituto Paulista pelo Dr. Vampré, amigo do Dr. Zeferino Vaz que era de Atibaia e conhecia e D. Maria costureira.  O tiro era para outra pessoa e acertaram o peito dele, por isso que a mão direita dele não tinha os movimentos perfeitos.  Nessa época trouxe sua mãe para Araçatuba junto com seus irmãos.

Como era um excelente mecânico, o convite era para trabalhar em uma oficina Ford para veículos em geral. Para se ter uma idéia, na época, o mecânico não era aquele que trocava peças, mas o que fazia as peças que precisava, pois os veículos eram importados e não havia peças de reposição. Por isso o que aprendeu no grupo, sobre medidas de ferramentas, sempre lhe valeram muito.

O irmão dele, o Luís, era um mecânico fantástico também. Um inventor nato, sem nunca ter freqüentado uma escola técnica. Inventou o macaco hidráulico para aviões, buzina a ar, caixa de descarga para banheiros sem necessidade de manutenção, mas pelas suas ciganices de estar sempre mudando e por suas ideologias políticas nunca soube aproveitar seus inventos.

Esta firma onde o José foi trabalhar chamava-se Colaferro & Mattos e a oficina tinha como destaque à especialidade com solda autógena.

Trabalhou posteriormente em uma agência Chevrolet J.Camargo & Cia., de propriedade do Sr. João Camargo, que era chamado de “Velho Camargo”.   A oficina não prosperou em virtude das enormes dificuldades que precederam e durante a “quebra de 1929”.  Recebeu algum tempo depois uma casa como pagamento pelos salários atrasados, onde então instalou definitivamente a D.Maria sua mãe.  Deu a casa para ela, que mais tarde, durante a guerra de 1945, passou a casa em nome do filho João, que era solteiro e morava com ela, isso porque estavam confiscando os bens dos estrangeiros no país.

Com muita determinação, permaneceu na cidade e abriu sua própria oficina, na Rua Carlos Gomes com a Rua Tiradentes, a qual costumava chamar em tempos mais recentes, de “espelunca”. Tinha um grande amigo e companheiro mecânico chamado João Martins, que era gago.

Alguns anos mais tarde – aproximadamente em 1928, conseguiu economizar algum dinheiro, comprou um terreno do Sr. Vicente Seissel (Dono do Circo Piolim), e construiu um barracão e transferiu sua oficina mecânica para a Rua Dom Pedro II. Foi seu tio Rinaldo, pedreiro, quem construiu para ele. Veio de Atibaia somente para isso. Foi ajudado também pelo cunhado Adauto – Tatáu.  Chamaram ele de louco na ocasião, por construir quase no mato, tão “longe era do centro”. Diziam que ele fugir.

Após todos os transtornos e quebradeiras causados pela crise de 1929, veio a revolução de 1932 e as dificuldades vieram novamente à tona e não havia mais serviços.   A oficina então foi desativada.

No ano de 1932, em 26 de maio, o Sr. José Colaferro teve a felicidade de casar-se com uma mulher extraordinária, a Sra. Teresa Monteiro Colaferro, cujo nome correto de casamento ficou sendo Tereza de Souza Colaferro , que nem ela sabia o porque.

D. Tereza, uma caipira do sertão da noroeste, como dizia o Sr. José, veio criança ainda para Araçatuba, de uma família desfeita pela doença, pobreza e morte dos pais, juntamente com seus irmãos, Antônio, José, Joaquim, Rosária, Conceição e Deolinda.  Cada um foi para um lugar. Antônio foi para a região de Bebedouro e nunca mais viu ninguém da família. José ficou em Araçatuba e adulto foi carroceiro. Joaquim foi para Mirandópolis e acabou sendo um ótimo celeiro. Rosária ficou em Araçatuba com uma família. Conceição foi com uma família para Bauru. Deolinda ficou com uma família em Araçatuba. D.Tereza foi parar na casa de uma família que a tratava como escrava e apanhava muito. Não pode estudar porque a família não permitiu. O que aprendeu foi sozinha. Sua patroa era daquele tipo que deixava tarefas para serem cumpridas a noite para estarem prontas no dia seguinte e só comia o que sobrava. Um dia a família foi viajar de mudança de cidade, estava levando ela e conseguiu fugir pulando do trem enquanto o mesmo ainda corria pela estação, tal eram os maltratos que recebia.   Foi então parar na casa de um casal de portugueses, também imigrantes, mas já bem de vida, com várias posses. Chamava-se Sr. Manoel Francisco Pedroso, dono de um armazém e de D. Joaquina Pedroso, uma parteira já famosa, na época a única na cidade, mas brava e muito exigente. Os filhos de D.Tereza nasceram todos pelas mãos de D. Joaquina.  D. Tereza trabalhou para essa família que a tratou bem e lá ficou até o dia em que se casou.  A família do Sr. Pedroso, um português distinto, bom, ficou sendo a família dela, a quem todos sempre dedicaram o maior respeito e agradecimento.

Após o casamento, o Sr. José foi morar com a D.Tereza nos fundos do seu barracão, num quartinho improvisado com tábuas, pois não tinham outro recurso.  Logo começou a construir uma casa, ao lado do seu barracão, também pelo seu tio Rinaldo de Atibaia.  Logo que a casa teve suas paredes levantadas e foi coberta com telhas, ele mudou-se para lá, mesmo sem portas e sem janelas. Esse “luxo” aconteceu tempos depois. Naquela época não havia roubos, praticamente. D. Tereza, até o dia em que mudou para uma casa maior, no ano de 1950/51, nunca teve uma ajudante sequer. Cozinhava, fazia todos os serviços domésticos e ainda costurava para todos os filhos e o marido. Mal sabia escrever, mas o amor que tinha pela família transbordava infinitamente.

A primeira geladeira o sr. José comprou no final de 1949, quando vendeu um terreno de 300 m2 que tinha ao lado do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.   Seus filhos sempre tiveram muito orgulho e respeito pelos seus pais.

Ela foi aquele tijolinho que fica no alicerce de uma construção, onde ninguém vê, mas que sustenta com sua força e seu amor os pilares da família. Nos dias de festa, aos domingos, quando tinha um frango na mesa, o pedaço preferido dela sempre foram os pés e o pescoço do frango. É fácil adivinhar porque.

Durante a Revolução de 1932, o seu barracão foi requisitado pelo exército, por um tempo, como acampamento para as tropas que se basearam na região.   Depois o barracão foi alugado para um ringue de patinação, para que houvesse alguma renda e posteriormente, para um depósito da Cia. de Cigarros Souza Cruz.

Durante aquele período, José Colaferro foi trabalhar novamente como empregado de uma oficina mecânica de veículos em geral.

Neste período também entre 1932 e 1937, comprou junto com seu irmão Luiz um caminhão e trabalhava fazendo fretes transportando algodão direto das roças transportavam toras de madeiras retiradas das derrubadas que faziam nas aberturas de fazendas, diretamente para as serrarias.

Em 1938, foi ser vendedor e cobrador da Singer Sewing Machine Company (máquinas de costura), nas regiões de Araçatuba e Bauru, iniciando no dia 22 de Janeiro.

Viajava num Ford modelo 1928, capota de lona, na época movido a gasogênio, que ele mesmo construiu, em virtude do racionamento de gasolina – início da 2ª guerra mundial. O veículo quase não tinha potência e em algumas subidas, nas estradas por onde andava, tinha que subir de marcha à ré, pois essa marcha tinha mais força (reduzida).

Vendeu muitas máquinas de costura e ficou mais conhecido ainda do que já era, principalmente na colônia japonesa – recém chegada ao Brasil – para trabalhar nas lavouras de café, pela confiança que inspirava como vendedor, pois além de vender, consertava e ensinava a costurar e operar a máquina. Vendia máquinas nos bairros rurais da Água Limpa, Prata, Córrego Elizeo, Jacutinga, Colônia Alemã, Colônia Cinco e toda “variante” (como era chamada a região).

Sentia muitas dificuldades em vender para os japoneses, então arranjou um ajudante japonês, que ficou sendo seu amigo, escudeiro e compadre, para falar com os japoneses na língua deles. Isso deu um resultado muito compensador e por muitos anos trabalharam juntos . Ele se chamava Antônio Mori. O Sr. José dizia que quando os japoneses não queriam, só diziam : “num chabe, num chabe……..”, mas quando estavam interessados, prestavam muita atenção. Se eles iriam comprar, o sinal era quando os japoneses o deixavam sozinho na sala e se reuniam nos fundos e ficavam conversando muito. Depois ficavam quietos e quando o Sr. José escutava um frango cantar ao ser pego no terreiro, era o sinal de que o negócio estava feito e então haveria frango na mesa para comemorar. Diziam: “vamu comprá memu, agora vamu comê”.  E não podia recusar o convite. Comeu até cobra, do que eles gostavam muito.

Em 1945 – final da 2ª guerra mundial -, a Companhia Singer, encerrou suas atividades na região de Araçatuba, indenizando todos os seus funcionários.

O Sr.José Colaferro, como era o melhor vendedor da companhia, solicitou e recebeu sua indenização representada em máquinas de costura da marca e assim continuou vendendo e trocando por outras máquinas usadas, que reformava e vendia novamente, fazendo para si um negócio e formando um pequeno capital. O depósito das máquinas, que eram aproximadamente entre 30 e 50, era nos quartos da sua casa, pois ele não tinha loja e nem oficina fora. Trabalhava sempre em casa.  A D. Tereza “penou” com o entra e saí, mas nunca reclamou de nada, muito pelo contrário, sempre agradecia a Deus.

Ainda em 1945 como tinha a propriedade do barracão, seus irmãos Antônio e João, que trabalhavam como mecânicos, empregados na oficina Chevrolet do sr. João Geralde, propuseram para o Sr. José a sociedade de uma oficina mecânica. O Sr. José tinha o barracão e tinha o capital. Seus irmãos tinham apenas o capital e trabalho e assim foi feita uma sociedade, em três partes iguais.  As partes dos irmãos, o Sr. José ainda emprestou para cada um, sempre com o espírito de ajudar a família, pois tinha as condições e o capital. Seus irmãos eram excelentes mecânicos, nessa época já bem conceituados na profissão.

A época era propicia, pois durante a guerra o fornecimento de veículos e principalmente de peças de reposição foi muito escasso.   Precisava-se então, recondicionar e fazer as peças, aproveitando o máximo possível das habilidades mecânicas. Essa geração de mecânicos não existe mais, o que existe são apenas trocadores especializados de peças.

A Sociedade iniciou sua atividade com o nome de Irmãos Colaferro que designava exatamente a composição da sociedade, ou seja; os irmãos José, Antônio e João. Mais tarde passou para Irmãos Colaferro Ltda. e depois para Colaferro S/A Comércio e Importação.

Para se ter uma idéia do sacrifício da D. Tereza, no início o depósito de peças e ferramentas, por motivo de segurança, era na despensa da sua casa. Então o entra e saí pela cozinha ou pelos fundos, era sem parar, além do bule de café que tinha que estar sempre cheio. Foi uma época de muito trabalho e muito sacrifício, que deve ser visto sempre, como a alavanca que nos trouxe até aqui.

Os sucessos e os insucessos:

Além da oficina, o negócio prosperou com a venda de peças, óleos lubrificantes e posteriormente com a concessão da BRASMOTOR (hoje Brastemp) , vendendo os automóveis Chrysler: caminhões Fargo e automóveis Plymouth.

A Brasmotor era a importadora e montadora dos veículos fabricados pela Chrysler, ou seja, caminhões Fargo, Dodge e De Soto e automóveis Plymouth, Dodge, De Soto e Chrysler.

Os negócios progrediram muito nos anos 50.

A empresa obteve ainda a representação dos Jeep ingleses da Land Rover e em 1950 / 51 compravam através da Importadora CIREI, na cidade de Porto Alegre (RS), os Jeep e peruas Willys Overland , automóveis e peruas Dodge e caminhões Dodge.  Nessa época a importação de veículos era feita através de uma Importadora de Porto Alegre (RS), isto porque o Presidente do Brasil era gaúcho, Getúlio Dornelles Vargas, e a Cirei, diziam, era dos seus aliados. Diziam que era do seu guarda-costa, Ten. Gregório. Compravam lá os veículos e vinham rodando de Porto Alegre até Araçatuba (sp).  Traziam tonéis (corotes) de vinho de lá, que depois eram engarrafados pela família para consumo próprio. Era uma festa. Cigarros só Marlboro e Chesterfield. Bons tempos.

Sr. José ficou sabendo desse negócio numa das suas viagens a São Paulo, porque na Brasmotor não havia mais essa facilidade e por conta própria, pois sempre foi uma locomotiva na família, foi até o aeroporto de Congonhas e voou para Porto Alegre para ver de perto como funcionava esse negócio e assim, depois, foram feitas várias viagens. Sempre vinham com um ou mais caminhões, sempre “encarroçando” outro em cima. Depois mudou o governo (acho que foi o Eurico Gaspar Dutra) e a festa acabou. Aí foi só a GM e a Ford em São Paulo e essas marcas já tinham representantes.

Junto com isso tudo o Sr. José conseguiu a representação como Revendedor dos Produtos Esso e Revendedor dos produtos “Shell Brazil” e dos pneus Firestone e Goodyear.

O casal teve quatro filhos. Dalva, Maria de Lourdes, Nelson e Elcio.

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