Tren a las nubes & Yerba Buena – 13º dia
Dia 13– Viagem do Atlântico ao Pacífico
9 de março de 2011
De San Antonio de los Cobres (ARG) a Yerba Buena (ARG)
Noite super mal dormida, afinal ontem foi dia de adrenalina total e, apesar de derrubar uma Quilmes de um litro antes do jantar, foi difícil a poeira baixar. Aaliás, ontem no caso, a água baixar.
Tomei um cafezinho merreca no hotel, mas não posso reclamar. Ontem à noite era tudo o que eu queria. Enchi o hotel de barro, pois onde passava, deixava meu rastro de lama. Não sei como eles me aceitaram a hora que entrei na recepção.
Depois do café, segui o ritual básico de “montagem” da bagagem. Desisti de limpar as coisas, pois em qualquer lugar que tocava era barro puro. Especialmente hoje, dei uma olhada geral na moto para ver os estragos. Não foi muita coisa: o pára-lama traseiro quebrou, o farol de neblina direito entortou e o protetor de motor também já tinha entortado quando eu “tombei”chegando a San Pedro.
Não dava para ser um dia sem prejuízos e o maior deles foi a minha câmera Cannon 50D. Ela me acompanhou toda a viagem, tomando pancada atrás de buraco, mas ontem compreensivelmente ela não agüentou o tranco. Foi demais para qualquer um. Bom, paciência. O principal momento da viagem ficou registrado com boas fotos. Daqui para frente às fotos serão apenas com o meu Black Berry.
Cometi o mesmo erro de ontem. Montei toda a moto e somente quando saí percebi que a luz vermelha de alerta do painel estava acessa. Opa! Algo errado. Fui checar o óleo e quase cai para trás. Havia completado ao sair de San Pedro e talvez por causa das quedas, houve vazamento. Completei e felizmente era isso mesmo. A luz apagou.
Dica para quem vai fazer viagens longas de moto: leve um litro de óleo (no meu caso, o Motul 3000 20W50 4T Mineral). Lógico que se não tivesse feito isto, provavelmente teria fundido o motor da moto hoje.
On the road again… de terra, rípio, com buracos, etc. Mas sem chuva, o que está um trilhão de vezes melhor do que ontem. Vamos lá, sem reclamar, afinal são somente 23 quilômetros a mais neste momento. Depois um pouco de asfalto e novamente terra antes de Salta (ou trevas, como verão a seguir).
Agora é hora de terminar a descida da cordilheira, afinal San Antonio de Los Cobres está a 3.500 metros de altitude.
Assim que entrei na pista de asfalto, encontrei um casal de suíços que estão viajando de bicicleta há quatro meses. Philippe e Rosy, um casal muito simpático que já passou pela Bolívia e Argentina e pretendem fazer a próxima aventura no Brasil, pois me disseram que todos os brasileiros param para cumprimentá-los e são extremamente amigáveis. Nossa, quanto louco estou encontrando nesta viagem! Detalhe: eles não ficam em hotel, somente acampam. A aventura deles está registrada no site http://www.rosyphil.com.
Vibrei em todos os quilômetros de asfalto! Ufa.
Mas antes de chegar a Salta, havia mais uns 40 quilômetros de terra. Achei que todos os desafios eu já tinha passado no dia anterior, mas estava enganado. Esta estrada tinha uns 20 pontos ou mais para testar a habilidade off-road de qualquer piloto. Com as chuvas, as pistas viraram rio, literalmente. O problema é que as pedras desceram junto com a água e, claro, a lama.
Quando olhei o primeiro dos 20 pontos de interrupção da estrada, pensei que não daria mais conta. Era muito mais feio que no dia anterior (tudo bem, sem chuva, o que torna a avaliação do local muito melhor). Tirei poucas fotos, não sei o porquê. Talvez pelo estresse do momento. Mas filmei absolutamente tudo neste trecho! Para eu mesmo ver e acreditar que consegui passar em todos sem cair ou tombar.
A lei do custo x benefício
Falamos tanto em custo x benefício no dia a dia, mas é verdade. Acho que muita coisa que tem um custo grande, tem um benefício enorme (claro não são todas, às vezes tem só a parte ruim). Quero dizer: preferi a estrada mais difícil, com maiores riscos, mas descobri que provavelmente muito pouca gente fica conhecendo o que eu vi, tamanha a dificuldade de acesso. Lugares únicos!
Fiquei embasbacado com a beleza deste trecho de San Antonio de Los Cobres até Salta. Agora entendi o porquê do famoso “Tren a las nubes”, que corre paralelo à estrada.
É um cenário exuberante, para não perder para qualquer paisagem européia ou outra qualquer. Provavelmente o trecho mais bonito da viagem toda. Aqueles 100 km em que pensei: “puxa, se fosse só isso já teria valido toda a viagem!”.
Este trem percorre 434 km e são cerca de 15 horas de viagem (ida e volta). O Tren de Las Nubes leva seus passageiros literalmente até às nuvens, em um dos passeios mais emocionantes em cima de trilhos, repleto de paisagens de tirar o fôlego.
Parte todas as quartas e sábados da estação da cidade de Salta e passeia entre as montanhas da Cordilheira dos Andes, atravessando a Quebrada del Toro (rio Toro em todo o percurso, eu que o diga!), o Vale de Lerma e chega a seu destino final, o Viaducto La Polvorilla, com 4.200 metros de altura. São duas paradas de aproximadamente 30 minutos durante o trajeto; na Estação de San Antonio de los Cobres e no Viaduto La Polvorilla (passando por Campo Quijano, O Alisal e Porta de Tastil).
Já no asfalto liso entre Salta e Tucumán, a polícia ou “Gendarmeria – Patrulla de Caminos“ me parou. Achei que fosse só um comando, mais era mais uma ponte caída por causa das chuvas. Pensei “tô lascado! Não chegarei a tempo”.
Precisava chegar a Yerba Buena às 17 horas. Eles abrem das 9 Às 12, depois tem a siesta e reabrem das 17 às 21 horas, inclusive para manutenção. Havia agendado a revisão de 10 mil km e aproveitei para dar uma “desentortada” em algumas coisas… rsrsrs.
A revisão foi rápida e, finalmente, tive minha moto limpa e brilhando novamente. Agora, após os 10 mil km de amaciamento, ela vai de óleo semi-sintético e não mais mineral (Castrol Actevo X-tra 4T SAE 20W-50). Fala sério, já pensou no cara que inventa o nome desse óleo fazendo sexo?
Em tempo: a parte legal, chique, sofisticada de Tucumán, fica em Yerba Buena! Tudo: casas, bares, restaurantes, academias, etc. E tudo aqui na mesma avenida da concessionária: Aconquija.
Mas o principal, várias… mas várias sorveterias. Uma ao lado da outra, daquelas de comer ajoelhado.
Só não experimentei se realmente a erva é das boas.
RESUMO DO DIA:
09.03.2011 – Quarta feira
De San Antonio de Los Cobres a Yerba Buena / San Miguel de Tucumán
Clima: Sol, temperatura boa.
Altitude no destino: 3.775 m
Acontecimentos: Atravessei mil riachos, a aventura continuou. Revisão na BMW de 10 mil.
Don Abel Hotel Boutique
Av. Aconquija, 1.400 – Esquina Guemes
Yerba Buena – Tucumán
Tel. 0381-425.1230
info@@hotelboutiqueabel.com.ar
www.hotelboutiqueabel.com.ar
Veja mais duas galerias de fotos deste dia:
Fabio, avaliando racionalmente, te chamaria de louco e irresponsável, pelo que vc fez, indo sozinho por estes caminhos, e ainda com chuva! Cara, vc passou por um alto risco, de se machucar em um tombo, sem ninguém pra te ajudar, e ficar ali agonizando até morrer de frio! Por outro lado, depois que vc passa, e vê o que vc viu e viveu, é muito legal, e dá até vontade de ir e fazer tbm… Mas vá com calma aí, que a vida é só uma, e precisa ser bem vivida! Riscos calculados, tudo bem! Parabéns pela coragem! Abçs e siga com Deus! Marcio – Campo Grande/MS
Fala Fabio, tudo bem?
Deve estar uma maravilha, tenho acompanhado sua viagem por aqui e ta dificil ficar sentado, da vontade de arrumar uma moto e me juntar a vc nessa aventura.
Curta bastante cada trecho e boa sorte no restante da viagem.
Forte abraco,
Toninho, então reserve uns 15 dias no ano que vem. Ushuaia 2012 vamos lá !
Valeu pela torcida ! Grande abraço, Fábio