Cabação ao volante ou lei rigorosa? – 8º dia

Dia 08 – Viagem do Atlântico ao Pacífico
4 de março de 2011


De Antofagasta (CHI) a San Pedro de Atacama (CHI)

Hoje comecei a diminuir o ritmo da viagem, como programado.  Nestes sete primeiros dias, mantive uma média de 600km/dia. O trajeto hoje é curto o suficiente para chegar em San Pedro de Atacama, onde ficarei por 3 dias e 4 noites.

Já sai mais tarde de Antofagasta, às 13:40hs, com 25 graus.

Uma das coisas que me chamaram atenção, desde a entrada no Chile, são as homenagens aos mortos ao longo das estradas.  Como se fossem pequenos altares ou pequenos túmulos, estes santuários particulares na beira das carreteras me intrigaram.  Estariam as pessoas enterradas ali?

Parei em vários deles e observei que são muito bem cuidados, vários guardam materiais de limpeza, pintura, etc, na parte de trás e, na maioria, todos são decorados com flores recentes. Alguns mantêm objetos pessoais dos mortos, vários deles mineiros da região de Calama.  Num destes lugares que parei havia um caminhãozinho de brinquedo utilizado nas minas, em outro uma caixa de explosivos, provavelmente temas relacionados ao tipo de morte destas pessoas.

Não me contive, e parei em uma casa onde a garagem era um bar, meio mini-mercado, daqueles minúsculos onde encontramos de tudo um pouco, seja uma “pilha de lítio 8x ultimate” ou ½ quilo de banha para fritura. Questionei o dono do estabelecimento sobre as minhas dúvidas sobre este assunto destes “túmulos” na estrada.

Ele foi muito atencioso e me deu uma longa explicação recheada de detalhes e provavelmente exemplificando vários casos onde talvez fossem até amigos. – Pena que eu não entendi absolutamente nada do que ele falou! Enquanto ele hablava, eu acenava bastante com a cabeça, fazia cara de interessado, por vezes tentei esclarecer uma ou outra frase, agradeci e saí da mesma forma que tinha entrado: sem saber nada.

Depois, no hotel, com mais calma, um motorista me explicou e disse que não são túmulos e as pessoas não estão enterradas na beira da estrada. Aquele é um costume, realmente uma homenagem aos finados.

A presença da religião católica no Chile é marcante. Estátuas nas entradas das cidades, a postura das pessoas, até o discurso do presidente do Chile que estava esta semana visitando o Papa, misturando assuntos de Estado com os da sacristia… Enfim, um país predominantemente impregnado pela religião católica.

Não faltam motivos religiosos por toda a parte: no Valle de La Luna, há umas pedras que apelidaram de Três Marias, pois segundo o guia, aquela era uma prova no próprio deserto.  Me concentrei olhando as pedras.  Uma eu tive a certeza absoluta que era um sapo, as outras duas infelizmente não consegui enxergar nenhuma outra coisa, exceto serem pedras em uma posição mais vertical.

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Engraçado que no Chile a placa de trânsito PARE significa parar mesmo! Totalmente. Por vezes, pensei tratar-se de um cabação ao volante, depois fui percebendo que em todos os lugares onde tem a placa PARE, as pessoas param. Quero dizer com isso que interrompem completamente o seu deslocamento físico para frente até atingirem uma posição inerte.

No meio do deserto, do nada, quando um brasileiro vê uma placa “Pare”, o comportamento de um animal humano convencional é reduzir a marcha, dar uma olhadinha e caso não tenha perigo, continuar seguindo em frente.  Ok, qual o problema?! Ou será a lei chilena muito rigorosa?

É incrível e ao mesmo tempo cômico. Faz-se uma fila de carros. O primeiro para, o segundo logo atrás para também, e assim se sucede o inexplicável.

É verdade que, algumas vezes, vem até um trem, mas aí tudo bem… Com uma leve reduzida é possível enxergar e decidir o que fazer (claro que se for o caso, dá uma acelerada antes dele cruzar e boa).

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Ainda sobre o chileno.

Eles dão notinha fiscal para absolutamente tudo, seja uma bala seja um refrigerante. Sempre dou uma sacaneada e quando eles vão me entregar a nota eu digo que não preciso, que pode jogar fora.  Os caras ficam meio sem saber o que fazer!

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Hoje havia muita poeira no deserto e muito rodamoinho e novamente o vento não estava para brincadeira. Invariavelmente todos os dias tem acontecido a mesma coisa a partir das quatro da tarde, uma ventania só. Levei uma rajada lateral que perdi até o rumo. Se eu não estivesse com as duas mãos no guidão, acho que perderia a frente da moto.

Ao final da tarde, antes de entrar na cidade, tentei subir no Valle de La Luna, mas não consegui. Do asfalto andei uns 10 quilômetros até a entrada do parque pela estrada de terra. Nesta portaria eu desci da moto e segurei a mesma para não cair. E não é história de motociclista, é sério. O guardinha veio me ajudar e se ofereceu para guardar a moto na portaria, que é abrigada justamente em função dos ventos.  A partir daí era uma subida de pedra em um precipício e o vento cortando.  Nem a pau, Juvenal. Esperei melhorar um pouco, dei meia volta volver.

Em relação à temperatura, que desertinho chocho!  Às duas horas da tarde e o termômetro só registrava 22 graus.  Puxa, estou no deserto, achei que ia ter queimaduras horríveis, me desidratar, cozinhar em cima da moto.  Que moleza, quase uma decepção, rsrsrsrsrs!

Apesar disto, tem muita luz. Os óculos escuros aqui são uma instituição inclusive para crianças pequenas. Não é para menos e, com toda a razão, o acessório é necessário. O modelo preferido são aqueles pretos, bem grandes, bem malandro carioca, bem modelo “merrrmão“.

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Sobre veículos em geral.

Não tive qualquer problema com os motoristas argentinos, nem com os chilenos. So far!

Nesta estrada de Antofagasta para Calama (a cidade do cobre), o tráfego é intenso. E haja caminhões e tratores.  Esse da foto aí embaixo achei meio grande.

Também chegando em San Pedro de Atacama, na Cordilheira do Sal, encontrei os caras da www.australmoto.cl. Acho que os nomes eram Hector e Mauricio. Eles têm uma empresa que organiza viagens de moto pela América do Sul e ficam baseados em Santiago. Inclusive alugam BMWs. Neste dia estavam fazendo e testando um novo roteiro para uma viagem em grupo. Eles pilotavam duas F800GS (bela moto).

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Mais fotos clique aqui.

À noite fiz o check-in no hotel Tierra Atacama. Que show de lugar. Acho que merecerá um capítulo à parte nos dias a seguir.

RESUMO DO DIA:

04.03.2011 – Sexta feira
Saída do hotel:  13h40 – Chegada às 20h15
Antofagasta (CHI) – Calama (CHI) – San Pedro de Atacama (CHI)
Clima:  Muito agradável, mas muito vento no deserto
Hotel Tierra Atacama
www.tierraatacama.com
Tel. 56-55  555.977

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1 Resultado

  1. Geraldo Magela dos Reis disse:

    Viva Vivida está show!… e por sinal, bem vivida.

    Parabéns.

    Um abraço.
    Geraldinho

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