“Puna” que pariu – 6º dia

Dia 06 – Viagem do Atlântico ao Pacífico
2 de março de 2011

De Purmamarca a San “Perro” de Atacama

Nossa, por onde começo? Hoje valeu por uns dois dias e meio.

Bom, antes de começar, confesso que o hotel em que fiquei – Manantial Del Silencio – era silêncio mesmo! Super bom, mas saí de lá e fui para Purmamarca procurar um psicólogo.  Muito silêncio. Demais!

Saí de Purmamarca com 17 graus de temperatura. Coloquei a parte interna da jaqueta e deixei uma blusa de fleece pronta para a travessia da Cordilheira dos Andes.  Disseram-me que poderia fazer até 12 graus lá em cima.

Como ontem à noite não tive coragem de sair, hoje fui dar uma voltinha na vila (não é propriamente uma cidade).  Legal, jovem, aconchegante, mas sozinho… Não dá. Daí, resolvi fazer algo mais radical e subi um morro em uma estrada de terra, com muita pedra.  Não tinha noção de onde aquilo me levaria. Vejam as fotos abaixo…

Depois do pequeno rali, sai em direção a Susques. Gente, não dá para classificar o que é mais bonito, mais interessante.  É tudo tão diferente, tão deslumbrante, tão grandioso, que fica difícil comparar os programas.

Dia do óleo na pista na Cuesta de Lipán. Sempre na pista da subida e sempre nas curvas, provavelmente onde é exigido mais dos motores.  Puxa, não bastam as pedras. E neste trecho tinha bastante óleo, prestei atenção para não cair, pois os precipícios são ligeiramente altos.

Isto é de uma beleza impressionante.  Eu só pensava que seria difícil chegar a San Pedro, pois a cada quilômetro era uma foto.

Quilômetros à frente vêm os famosos caracoles. Hoje vou tentar falar menos, e mostrar mais.  As palavras ficam pequenas e pobres perto das imagens. Impossível competir.

Depois o salar…

E os pedidos de fotos continuam. Hoje muitos europeus, mas os mais simpáticos são los Hermanos, que são a maioria absoluta dos turistas.  Sempre de carro.

Tentei fazer uma visita a uma família da região. Claro que eles não entenderam muito bem o propósito da tal visita, e óbvio que eu não esperava café e bolo.  Mas as poucas palavras que trocamos me serviram para boas reflexões e a inevitável é: como alguns vivem com tão pouco? Não que eu queira viver com menos, pelo contrário, mas de fato o mundo é muito desigual. Fotos com “permisso”.

Susques, que cidade maravilhosa! O cara lavou meu tanque com gasolina, mas sem cerimônia alguma. Afinal qual a importância que isto deve ter para ele? E aí, você acha que eu vou reclamar?  Não, não faz sentido.  Deixa assim… Depois peguei a água mineral de joguei por cima.

Dei mais uma volta na metrópole, conversei com uns meninos na rua e entrei em uma casa para almoçar (nem vou chamar aquilo de restaurante, pois era literalmente uma casa onde a mulher foi fazer a comida na hora para mim).

Uns ”nó cegos cabeças de pau” disseram que eu não encontraria gasolina em Paso de Jama e fiquei bem preocupado. Fui novamente ao posto para encher o galão, mas o cara não fica lá.  Algum conhecido tem que ir até a cidadezinha e chamá-lo para que ele venha atender quem está na fila esperando (um monte de gente com galão).

Antes da fronteira, não agüentei a solidão e parei para tomar uma Quilmes com o meu amigão!

Uma observação: desde Purmamarca, minha viseira está totalmente limpa.  Não tem inseto!

Alguns amigos já haviam me avisado que se por acaso eu me emocionasse em alguns trechos, não era para ficar preocupado, pois eu não estaria virando viado. Então, né, verdade!  Uma sensação de plenitude, um sentimento sensacional, sem palavras, descrita somente pelas duas ou três lágrimas que caíram.  Hummm, emotivo, hein?! É, relendo o parágrafo, acho que ficou estranho!

Na aduana argentina foi tudo muito rápido, coisa de 5 minutos (antes, abasteci em um posto bem moderno da YPF no Paso). Apesar dali ser a fronteira, a aduna do Chile fica somente em San Pedro de Atacama, o que ao contrário da Argentina, é uma baita burocracia (como os caras adoram um carimbo e uma assinatura). Isto é a mesma coisa nos consulados: da Argentina tudo rápido e fácil.  Do Chile, uma coisa de 50 anos atrás.

Cruzei a fronteira para o Chile com chuva fraca. E ela me perseguiu no deserto por 60 quilômetros. Desinformados os caras que dizem que aqui não chove há décadas. Balela. A temperatura era de 15 graus.

A primeira mudança que observei foram as faixas na estrada, que deixaram de ser brancas e passaram a ser amarelas.

Sobre o fato das motos perderem desempenho na altitude, sinceramente senti muito pouco, quase nada, no meu caso.

Não sei se já disse, mas esta viagem tem vários propósitos, tais como: andar de moto, viajar, conhecer lugares novos, refletir sobre a vida, mas principalmente, para fotografar.

E hoje me empolguei com as fotos. Parei muito, sai às onze da manhã de Purmamarca e deveria chegar ao máximo às seis da tarde em San Pedro.  Mas fiz bobagem… Claro que agora, vendo as fotos, fico valente e, para diminuir a minha sensação de estupidez, digo que não me arrependo.

Para encurtar essa história, eu estava às 19h30 passando pelo ponto mais alto deste caminho na Cordilheira dos Andes, o que por si só já é um absurdo.  Há exatos 4.834 metros de altitude e com a temperatura de 3 graus (preferi colocar as fotos abaixo para não passar por mentiroso), eis que começa a nevar.  Uma neve muito fina, com sol, mas com aqueles flocos que na minha situação foram terríveis. Estava preparado para o frio, mas para o frio das quatro da tarde.  Não das oito da noite.

Tremia, contraía todos os músculos, mas o que foi atroz foi o vento.  Estou com dor no pescoço.  O vento jogava a moto para a direita, bem como minha cabeça. Essa tortura durou uns cem quilômetros. Confesso que fiquei com medo, a cagada foi grande e não passava absolutamente ninguém na estrada (em nenhum sentido).   Desde quando se cruza a fronteira, no Paso de Jama, até San Pedro (150 km depois), não tem absolutamente nada, só mesmo a beleza da natureza que é de matar.

Santas manoplas aquecidas, Batman!

Quase chegando a San Pedro, não podia perder a última foto, sempre a última. Todo o trajeto foi em pista simples e ali eu realizava o 56º retorno na pista, para voltar e clicar. E como sempre digo: você vai tombar a moto, só não sabe quando.  Provavelmente quando está morrendo de frio, tenso com toda a situação, com pressa, desleixado… Fui.  Uns 250 quilos da moto, mais 50 de bagagem, mais uns 15 de acessórios, um galão com 10 litros cheio… É, Renatão, meu personal trainer, acho que está dando resultado.  Bom, também e o cagaço com aquela monstra caída no meio da estrada, ou melhor, no meio do tobogã (que desce em 35 km, de 4.800 metros para menos de 2.500 metros de altitude).

Agora à noite, escrevendo este post, estou no Cafe Adobe em San “Perro” de Atacama.  Como tem cachorro solto na rua! E a merda de estar de moto é que eles vêm correndo para morder. Até o momento, dois já experimentaram o bico da minha bota. É duro.

Voltando ao Adobe, música gostosa, com uma fogueira enorme no centro do bar. Teto de palha, mesa e bancos de madeira e muita descontração.

Ah, quase ia me esquecendo. A “puna”, doença da altitude. Todo mundo me preparou, deu conselhos, dicas, etc. Coisas terríveis sobre a puna. Que puna que nada.  A puna que o pariu!

Estou muito curioso para ler os e-mails, ver os comentários, etc.  Mas o ofício de blogueiro não é fácil. Ainda mais depois dos afazeres domésticos, de lavar as roupas, reapertar coisas na moto, abastecer, calibrar pneus, consertar sempre pelo menos uma coisa que quebra no dia… Escrever e fazer uma seleção das fotos.  Até apagar, já são umas duas da manhã.  Ah, de tomar um Dorflex também.

download5

RESUMO DO DIA:

01.03.2011 – Terça feira
Saída do hotel: 10h50min. – Chegada às 20.50 h.
Purmamarca (ARG) – San Pedro de Atacama (CHI)
422 km rodados – Odômetro na origem: 9.534 km
Clima: excelente, exceto na cordilheira dos Andes (com chuva).
Altitude no destino: 2.400 m.
Acontecimentos: Morri de frio, fiz bobagem, tombei a moto,…
Hotel Kimal
Domingo Atienza, 452 – San Pedro de Atacama
http://www.kimal.cl/index.htm
e-mail: reservas@kimal.cl
Teléfonos y fax: 56*-55 851030 / 851152 / 851524

Compartilhar

Você pode gostar...

1 Resultado

  1. Marcio Algranti disse:

    P E T A C U L A R!!!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

(Spamcheck Enabled)