Rally Dakar na Argentina e Chile – 2009
Viagem de Paulo Ancona
(Vivido e escrito pelo próprio)
Gostaria de compartilhar com vocês o trajeto que fiz nesse final de ano de moto pela América do Sul (dez/2009).
Breve relato:
27/12: saída de SP – passando por Ourinhos, Londrina e parando em Cascavel, casa do meu amigo do Rally dos Sertões Elvis.
Na saída de SP, na Rodovia Castelo Branco assisti de camarote, a 50 mts a minha frente, um Gol zerinho capotando na reta. Ajudei as figuras a saírem do carro de ponta cabeça.
Problema na bomba elétrica da moto chegando à cascavel. Elvis me ajudou a levar a moto até sua casa, onde havia um churrasco me esperando com cerveja bem gelada.
28/12: resolvido problema da bomba elétrica da moto final do dia. Chegou a cascavel um casal de amigos, também de moto igual a minha, Regis e Suleima.
29/12: Cascavel – Foz do Iguaçu – 120 kms-(Esse foi o único trecho que fiz acompanhado, com Regis e Suleima, o restante foi tudo sozinho.)
Não consegui entrar na Argentina com a habilitação, precisava da identidade ou passaporte, que minha secretária encaminhou via aérea para Foz no final do dia.
Aproveitamos para ver as cataratas que estavam com muita água e de extrema beleza.
30/12: Foz do Iguaçu – Buenos Aires
Esse dia foi de arrebentar. Acelerei pelas retas da Argentina 1600 kms por 12 hs, sem parada para comer, apenas oito abastecimentos. Cheguei a Buenos Aires as 22h30 e encontrei com amigos que foram de avião.
31/12: Buenos Aires
Tirei o dia para encontrar os pilotos brasileiros do Dakar, Tiago Fantozzi, Carlos Ambrósio, Borjean, e Vicentinho.
Marcamos de passar o réveillon juntos e fazer o deslocamento de moto até Colón no dia 1º, após a largada promocional. Porém as 21h00 minha moto teve novo problema com a bomba elétrica e tive que ficar a pé até dia 02.
Regis e Suleima chegaram hoje a Buenos Aires.
01/01: Buenos Aires
Passei o réveillon com amigos e fomos à Pachá de Buenos Aires. Pra esquecer os problemas sem solução imediata comemoramos a virada até 9h00 e depois fomos assistir a largada promocional.
02/01: Buenos Aires
Fiquei rodando com a moto do Régis pelas bocas de Buenos Aires e encontrei uma bomba nova em uma loja de motopeças, pois a Ktm de lá estava fechada.
Acabei de montar a bomba as 23h50. Tive que puxar um positivo pós ignição do farol, pois o original não funcionava mais… (deve ter queimado o relê).
03/01: Buenos Aires – La Rioja
Fui encontrar o rally na terceira etapa, tendo que tocar mais de 1200 kms direto.
Na saída da especial do Dakar encontrei com alguns carros pegando asfalto. Tive o prazer de emparelhar com o Hummer do Robby Gordon a 208 km/h e dar um pau nele, chegando a 215! Ele não acreditava, emparelhados riamos de passar por aquele momento. As estradas na Argentina são incrivelmente retas e planas e o povo ultra alucinado por esporte a motor.
Dormi no motor home do Carlos Ambrósio. Nesse dia entrei de moto no acampamento do Dakar, quando cheguei na cidade a noite fui ovacionado pela multidão Argentina, certos de que eu era um Valente competidor que chegava tarde da noite para cumprir o dia. Eu não sabia de nada, fui entrando e entrei no acampamento do rally, que só entra quem é credenciado. Encontrei o Fantozzi, Ambrósio e toda equipe.
O Motor home não podia entrar lá, apenas carros/caminhões 4×4 são inscritos como apoio no Dakar, e todos esses são monitorados pela organização. Se passar do limite de vel. em zona de radar, 500 Euros de multa!
O negócio lá é mega super ultra…
04/01: La Rioja – Fiambalá
Esse dia foi mais curto, “apenas” 400 e poucos kms e o cenário já estava bem seco, desértico, região do Atacama.
Nessa cidade chove um dia por ano. Muito calor de dia, frio à noite.
05/01: Fiambalá – Copiapó
Pra mim o dia mais doido, bonito, apreciado, legal do rally.
Subimos a quase 5.000mts de altitude.
Quase congelei na subida, não esperava tanto frio.
Tive que pedir auxílio para o exercito Argentino com sacos de lixo por dentro da roupa para me esquentar.
O lugar é lindo demais, nem parece de verdade. Parece tudo pintura.
Vejam fotos nesse link até eu baixar minhas fotos;
http://www.duasmotos.com/duasmotos/2005_Paso_San_Francisco_fotos.html#7
Só que minha viagem foi feita em sentido inverso desses desse pessoal.
Parei na Aduana Argentina onde encontrei o motor home e minhas coisas, pois tive nesse dia que carregar 20 lts de gasolina no baú da moto, pois eu precisava de quase 500kms de autonomia.
Depois tive que passar na Aduana do Chile. Isso tudo toma quase 2 hs só de Aduanas.
Falta ar nessa altitude. A musculatura do corpo queimava só de ficar filmando com minha Cam, pois não oxigenava.
Imagens incríveis. Thermas de 40º onde se tem gelo nos picos e a temperatura ambiente gira entre 3 e 5º.
Lagos Salinos, com uma cor incrível, com 130grs de sal/litro d’água. Molha-se a mão, em 20 segundos está seca e branca, do sal. O lugar é extremamente seco, não chove há décadas…
Chegando a Copiapó tem-se uma paisagem inusitada com montanhas cercando a cidade toda, sem vegetação alguma. Montanhas de pedra. Não parece de verdade.
06/01: Copiapó – Antofagasta
Dia de 600 e poucos kms, chegamos ao litoral do Chile com paisagens diferentes e muito bonitas. Estamos mais pertos do Atacama.
Esse é meu último dia de rally, pois amanhã começo a voltar.
Aproveitei pra comer muito nesse dia dentro do parque fechado do Dakar.
Devidamente credenciado fui jantar, tomei cerveja, peguei uma garrafa de vinho para levar para o motor home, que ficava sempre em um acampamento ao lado do oficial. (tudo isso é só pegar no refeitório, seja piloto, imprensa, mecânicos ou motoristas)
Nesse dia o motor home iria ficar na cidade, pois o rally subiria para IQUIQUE e no dia seguinte retornaria a Antofagasta e não justificava rodar quase 1300 kms por 1 dia apenas.
07/01: Antofagasta – San Pedro Atacama
Esse lugar eu quero falar apenas depois de voltar para lá e ficar uns três dias vendo tudo o que se tem pra ver.
É lindo, incrível… Não chove há 10 anos… tem 2.000 habitantes… Vulcões, Geisers e muita pedra.
Fiquei em um hotel em que passei em frente e vi algumas motos estacionadas, sendo duas BMW, três KTM e um V-Strom.
Um deles é conhecido do Sertões, João Pereira.
Ficamos conversando, eles foram pra cidade e me convidaram. Disse que iria tomar um banho e iria em seguida.
Bem, após tomar o banho tropecei na cama e acordei apenas no dia seguinte.
08/01: San Pedro Atacama – Currientes
Acordei as 6h00, montei a moto, tomei café e comecei a viagem de volta. Faltavam 3.300 km.
Na Aduana do Chile ao chegar vejo cinco KTM´s e encontro o Tonico Escobar, que estava lá com amigos (mandaram as motos de caminhão e foram de avião).
Fiquei quase 1 hora na fila da Aduana, um saco. Depois teve a Aduana Argentina, mais 1 hora…
Paisagens e serras incríveis, estradas cheias de curvas, descidas que levaram de 4500 mts de altitude para menos de 1000mts.
Depois peguei uma reta com mais de 500 kms, acho que ruta 16. Matei dois passarinhos na estrada, um com a cabeça e outro na moto, pena.
Estava escuro e busquei alcançar uma lanterna que aparecia no horizonte. Acelerei um pouco mais e segurei os 180 km/h para alcançar, mas não chegava nunca.
Eu queria um carro para seguir e me proteger contra eventuais bichos que cruzassem a estrada, além dos insetos que explodiam na carenagem da moto.
Quando alcancei era um carro do Brasil, uma hilux SW4. Acabamos que paramos no mesmo posto para abastecer após uns 80 kms. Fizemos amizade, o cara estava com a mulher dele e procuramos um hotelzinho para comer e dormir.
09/01: Currientes – Campo Mourão
Acordei as 6h00, montei na moto, bati no quarto do casal para acordá-los conforme combinado e parti.
Peguei pela primeira vez chuva na estrada, forte… eu mantinha 150/160 km/h com segurança, só retas, pouquíssimos carros, mas aí minha moto apresentou problemas na bomba elétrica nova.
Parei umas 10 vezes. Até que desmontei tudo, montei de novo. Parou de novo. Rezei. Pedi a Deus me tirar dali, me levar até o Brasil que eu iria devagar… a moto funcionou e depois de 30′ andando a 110/120 eu voltei a conversar com ele… “Deus, eu disse devagar mas nem tanto… vou acelerar um pouco mais, você entende né…..”
Chegar ao Brasil foi Fantástico.
Parei em Foz para comer e resolvi esticar até onde o corpo agüentasse. Rodei mais 300 kms à noite e dormi em um motel de beira de estrada. Isso foi engraçado!
10/01: Campo Mourão – São Paulo
Bem, acordei com chuva no Motel… Mas isso pouco importava. Eu estava no Brasil, em casa, sem LOS HERMANOS DO CARALHO, sem ter que trocar dinheiro, sem ter que fazer nada.
Assim que peguei a castelo Branco, umas 14h00 parei no Gral para abastecer e comer. Quando saí estava um dilúvio, tempestade das bravas. Nem as pessoas de carros queriam ir… eu queria muito!
E fui. Após 15 dias, 9500 kms cheguei a Sampa e posso falar, VIAJAR É BOM DEMAIS! MAS VOLTAR PARA CASA NÃO TEM PREÇO! Uhuuuuu….
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